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HISTÓRIA DE AMOR

Tocantinense conhece paquistanês pela internet, se casa e ganha ouro na cerimônia

06 maio 2023 - 18h08Por G1 Tocantins

A tocantinense, Danyella Carneiro do Nascimento (31 anos) e o paquistanês, Fawad Saleem (38 anos), se conheceram há 18 anos enquanto ela praticava inglês na internet. O que começou como uma amizade virtual se transformou em um romance. Em 2020, eles se casaram no Paquistão. Foi uma cerimônia simples, com o dote como parte dos costumes e ouro e dinheiro como presente dos convidados. Uma história de amor que começou onde menos se esperava, e que mostra que o amor pode acontecer em qualquer lugar do mundo.

Danyella, que reside atualmente no Paquistão a mais de 13 mil quilômetros da capital do Tocantins, conta com a ajuda da internet para reduzir a distância. Por meio das redes sociais, a palmense compartilha sua história de amor, informações curiosas e também luta para desconstruir o estereótipo de homens muçulmanos.

 Em seu perfil nas redes sociais, ela brinca sobre ser casada com um paquistanês e esperar por resgate em um de seus vídeos em resposta a comentários preconceituosos:  "Minha difícil vida de casada com paquistanês enquanto espero resgate", escreve. Em seguida, ela vai mostrando o quanto é bem tratada, respeitada e mimada pelo marido, desde jantares a joias que ganha do Fawad.

 Danyella ainda grava vídeos ensinando a preparar pratos típicos do Paquistão, como nihari e biriyani. São receitas à base de frango e tamarindo. Mas, ao viajar para o Brasil, ela não deixa de levar a sua "trouxinha" de comidas brasileiras: massa de cuscuz, limão, feijão e café. No Paquistão, o preço do café é muito alto.

 Em entrevista ao g1 ela contou sua experiência de viver em um país muçulmano, sua relação com a sogra e como foi passar seu primeiro terremoto. 

 

Danyella, Fawad e a irmã de Danyella quando o paquistanês visitou o Brasil — Foto: Reprodução/ Arquivo pessoal

Na cultura paquistanesa, um pedido de mãe é quase lei e ela achava o Brasil perigoso. O casal não desistiu. “Então teve o plano B, ele tinha uma viagem para Londres a trabalho e me convidou para a gente se encontrar lá”.

Apesar de anos de amizade, a tocantinense teve todo o cuidado para se proteger. Danyella enviou um email para a família e amigos, contendo fotos dos documentos dos dois, informações do hotel onde ficariam e até palavras de segurança.

“Se eu mandasse uma mensagem com tal palavra, eles ligariam para polícia”. Mas segundo ela, deu tudo certo. Em 2014, o futuro casal se encontrou na Europa.

 Os noivos e a família da noiva — Foto: Reprodução/ Arquivo pessoal

TODOS JUNTOS NA MESMA CASA

Depois do encontro em 2014, o casal começou a namorar. Danyella decidiu visitar o Paquistão para conhecer a família de Fawad. Para a surpresa dela, todos moravam juntos, na mesma casa. No primeiro momento, a palmense achou que o relacionamento poderia não dar certo por causa dos costumes e diferenças.

Eu vim para o Paquistão duas vezes antes de me casar, em 2016 e 2018. Aqui as famílias têm o costume de morar todos juntos na mesma casa e eu não gostava da ideia. Achava que isso não iria dar certo. Depois de 5 anos namorando à distância, a gente tentou ficar afastado e também não deu certo. No fim, meu medo era sem fundamentos e eu fui acolhida pela família", relatou.

Ainda no namoro, Danyella também teve problemas com a futura sogra. A mãe de Fawad é muçulmana e bastante apegada à religião, por isso achava que o casamento do filho com uma brasileira cristã não daria certo e acabaria em divórcio, que embora seja permitido dentro do islã, é mal visto culturalmente.

As diferenças ficaram apenas no início. Com o passar do tempo, tudo foi se ajeitando. A sogra aceitou o relacionamento e as duas construíram uma bonita amizade. "Hoje ela diz que se arrepende de não ter concordado antes”, garante Danyella.

OURO NO CASAMENTO

casal

 Danyella e Fawad se casaram em 2020 — Foto: Reprodução/ Arquivo pessoal
 

 
Danyella e Fawad se casaram em 2020, em plena pandemia. A palmense arrumou as malas e foi buscar a felicidade no país asiático. O casamento seguiu as tradições islã, as quais permitem que o homem se case com mulheres judias e cristãs.

No entanto, a cerimônia foi bem diferente da tradicional e não seguiu todos os ritos por causa das medidas de restrições impostas durante a pandemia de Covid-19.

A festa, que geralmente levaria de quatro a cinco dias, foi realizada em apenas um dia. Os dois realizaram o Nikah, cerimônia onde é assinado um contrato de casamento com pedidos e exigências dos noivos.

 Fawad pagou um dote à noiva e uma festa pequena foi feita. Diferentemente do Brasil, no casamento paquistanês, os convidados não dão eletrodomésticos como presentes. Mas, mimos muito mais valiosos.

“Tive uma festa pequena de casamento, de presente eu ganhei ouro e dinheiro”.

 Foto do casamento entre Fawad e Danyella — Foto: Reprodução/ Arquivo pessoal
 

A VIDA NO PAQUISTÃO

Vivendo em Lahore, uma cidade com mais de 11 milhões de habitantes, a tocantinense já se acostumou com as diferenças entre os países. Mas, confessa que sente falta de coisas simples, como uma manicure brasileira para tirar as cutículas e pintar as unhas.

Aqui tem, mas o valor geralmente é duas vezes mais caro. Elas vão te fazer uma massagem, passar um óleo, mas não vão tirar a cutícula, nem pintar as unhas. No dia do meu casamento foi e fizeram tudo isso, mas não pintaram. Cobraram a mais por isso e ainda não ficou bom”.

A comida, bem diferente, também foi um problema no começo. Danyella conta que os pratos são bastante temperados e bem gordurosos. Ela chegou a perder 6kg.

Os paquistaneses têm anticorpos que a gente não tem, a comida de rua pode te dar uma diarreia”, conta.

A brasileira ainda disse que a poluição incomoda bastante por causa da grande quantidade de carros circulando nas ruas. Outra diferença é a mão inglesa, quando o volante fica no lado direito do carro, e o carro trafega pelo lado esquerdo da estrada.

Transito da cidade de Lahore, onde a Danyella mora — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

 VIVER EM UM PAÍS QUE SEGUE O ISLÃ

O Paquistão é um país que segue a Sharia, lei muçulmana. Apesar do estereótipo e preconceito, Danyella conta que nunca sofreu qualquer tipo de represália, mas sabe que nas cidades grandes existe uma liberdade maior.

 Danyella em Lahore, cidade onde mora — Foto: Reprodução/ Arquivo pessoal
 

 
 “Em Lahore existem minorias cristã, budista, hinduísta, também tem igrejas católicas, uma faculdade presbiteriana. Em igrejas protestantes eu conheço pessoas daqui, não imigrantes que são cristãos. Aqui as pessoas têm mais liberdades que em por exemplo lugares menores, vilas mais conservadoras pode ser que seja um problema”.

Prestes a completar três anos de casamento, Danyella segue a vida no Paquistão com felicidade. Já se adaptou a muitos costumes, mas às vezes ainda leva alguns sustos, como a primeira vez que passou por um terremoto.

Durante o tremor, o marido e a família ficaram tranquilos, mas surpresos por Danyella nunca ter passado pelo fenômeno.

Comecei a perguntar o que a gente ia fazer, se íamos para algum lugar se proteger, se íamos para a rua e meu marido disse que não precisava. Ele disse que tem tanta gente na cidade e que se todo mundo saísse por causa do terremoto, não ia ter espaços para se proteger. Então era melhor ficar dentro de casa mesmo”.