Investigação aponta que suposta execução de homem em oficina ocorreu por 'vingança'
17 OUT 2024 • POR • 08h27A investigação da Polícia Civil apontou que a morte de Jaimeson Alves da Rocha, de 35 anos, teria como motivo uma desavença entre ele e policias militares, ocorrida no fim de 2023, que gerou um sentimento de 'vingança'. Cinco PMs e um guarda metropolitano são investigados e foram alvos de uma operação realizada nesta terça-feira (15). A suspeita é de que eles teriam forjado uma troca de tiros para executar a vítima.
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"Independentemente de a quem assiste razão, é preciso salientar que esse desentendimento acabou despertando um sentimento de vingança junto aos integrantes da tropa da Polícia Militar", diz trecho da investigação.
Uma decisão da 1º Vara Criminal de Palmas autorizou o cumprimento dos mandados contra os PMs e o guarda metropolitano. Todos tiveram as armas recolhidas. Também foi determinada a suspensão do porte de arma e o uso de tornozeleiras eletrônicas.
A morte de Jaimeson aconteceu no dia 18 de junho deste ano, em uma oficina mecânica localizada no Jardim Aureny III, região sul de Palmas. Além de simular o confronto, os suspeitos também teriam plantado um revólver perto da vítima, segundo a investigação.
O advogado Paulo Roberto, que se identificou como defensor dos cinco policiais militares, afirmou que ainda não teve acesso aos autos "tão logo eu tenha acesso a todos os elementos do processo, informo quais serão as atitudes que tomaremos".
O advogado João Fernando, que se identificou como advogado do guarda metropolitano, afirmou que ainda não teve acesso integral ao inquérito e que só se manifestará após o acesso integral ao conteúdo.
Em nota, a Polícia Militar afirmou que colaborou com o cumprimento dos mandados e acompanhou o cumprimento da ordem judicial, com um oficial presente em todos os locais que foram alvos da operação. Também lamentou o pedido de busca e apreensão nas dependências do quartel, pois as armas e os depoimentos dos policiais foram colhidos no ato da apresentação da ocorrência na delegacia. (Veja íntegra ao final da reportagem).
A Prefeitura de Palmas informou em nota que está colaborando com a Polícia Civil no caso do suposto envolvimento de um agente da Guarda Metropolitana, mas que não teve acesso à íntegra dos autos. "Sendo confirmada a participação do agente, a pasta tomará todas as medidas cabíveis para apurar possíveis desvios de conduta e aplicar as sanções dentro do que determina a legislação", afirma (Veja nota completa abaixo).
Trocou socos com PMs em 2023
A Polícia Civil, por meio da 1ª Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP - Palmas), apontou em inquérito que Jaimeson tinha envolvimento com a criminalidade na região e foi abordado por policiais militares em diversas oportunidades. Mas, o atrito que supostamente levou à morte teria ocorrido durante abordagem registrada no dia 16 de novembro de 2023.
Jaimeson foi flagrado com uma arma de fogo e acabou se desentendendo com um dos integrantes de uma equipe da Polícia militar. O homem teria dado um empurrão em um sargento, sendo algemado e agredido.
No boletim de ocorrência do caso é citado que a situação estava calma até Jaimeson começar a se alterar e empurrar o policial militar. A equipe supostamente tentou segurá-lo para ser algemado, mas Jaimeson acabou derrubando outros três militares durante luta corporal e levou um tiro, precisando de atendimento médico.
Entretanto, apesar do relato oficial, parentes da vítima afirmaram que os policiais teriam tido uma conduta autoritária com agressões, por isso Jaimeson reagiu contra a abordagem, conforme conta o inquérito.
"O aprofundar das investigações inseriu aos autos elementos indiciários contundentes, capazes de dar a este Delegado de Polícia base fática para afirmar que a execução de Jaimeson não se deu por força do acaso. A covardia cometida não fora apenas fruto da maldade aleatória e momentânea dos policiais. Em um claro movimento corporativista, Jaimeson foi vítima de um sentimento de revanche, despertado após o embate com militares no ano de 2023" , destacou a autoridade policial.
Ameaças no hospital
Policias militares são investigado por matar homem e adulterar cena de crime em Palmas — Foto: Reprodução/ Tv Anhanguera
O relatório da Polícia Civil apontou ainda que enquanto era atendido na UPA Sul e Hospital Geral de Palmas (HGP) após ser baleado na abordagem policial, Jaimeson queria que sua irmã ficasse junto com ele na sala de emergência, por medo de represálias.
Uma testemunha informou ainda que policiais também estiveram na unidade e no HGP, onde chegaram a manifestar frases de ameaça. Segundo o relato destacado pela polícia, militares diziam: "mexeu com um de nós, vai pagar" ou "derramou sangue de polícia, não pode ficar desse jeito".
Depois do episódio, em novembro de 2023, Jaimeson foi preso e conseguiu a liberdade no início de 2024. Conforme relatos de parentes, pouco depois dele sair da prisão, cinco policiais invadiram a casa que ele morava com a esposa mesmo sem uma ordem judicial para procurá-lo.
Ainda conforme a investigação, antes do dia em que Jaimeson foi assassinado, os policiais militares investigados, com apoio do guarda metropolitano, teriam monitorado os passos do alvo por pelo menos nove dias.
Eles usaram câmeras de monitoramento da Prefeitura de Palmas, do Centro Integrado de Comando e Controle (CICC), da Secretaria Municipal de Segurança e Mobilidade Urbana de Palmas (SESMU) para ver por quais vias a motocicleta de Jaimeson passava pela cidade.
Morte e operação
Jaimeson foi morto dentro de uma oficina mecânica localizada no Jardim Aureny III, região sul de Palmas. Conforme a investigação, câmeras de segurança de um comércio vizinho registraram quando o guarda metropolitano e um dos PMs investigados passaram em frente ao local momentos antes da abordagem. Eles estavam em carros sem identificação da polícia.
Jaimeson chega à oficina para consertar sua motocicleta e o mecânico inicia os trabalhos ainda na calçada, enquanto a vítima entra na oficina. Poucos minutos depois policiais da Rotam chegam, pedem para que o mecânico saia e entram no local.
A proprietária da oficina também é retirada e, segundo seu relato, antes de sair ela viu Jaimeson ser revistado pelos policiais e ficar de frente para os militares com as mãos para cima, completamente rendido. Esse relato, conforme a Polícia Civil, contrariou a versão dada pelos PMs.
A proprietária também viu o guarda metropolitano em uma calçada próxima. Segundo ela, ele lhe fez algumas perguntas sobre a vítima. Em seguida a mulher correu, após ouvir disparos de arma de fogo.
Um laudo apontou que Jaimesson foi atingido por dois disparos no tórax que ficaram alojados no corpo e outro disparo no ombro, que transpassou a vítima e ficou fixado na parede.
Uma arma encontrada perto do corpo da vítima foi periciada pelo Laboratório de Genética da Polícia Civil do Tocantins e conforme laudo, o contato de Jaimeson com a arma se deu de maneira forçada e quando já estava sem vida.
Veja o que diz a PM e a Prefeitura de Palmas
Nota da Polícia Militar
Polícia Militar do Tocantins tomou conhecimento de que na manhã desta terça-feira, a Polícia Civil esteve no Quartel do Batalhão de Polícia de Choque (BPCHOQUE) para cumprimento de mandados de busca e apreensões em armários de cinco policiais que estão sendo investigados pela Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoas (DHPP), por terem, segundo investigações consignadas em Inquérito Policial, praticado homicídio contra um indivíduo, na região Sul da capital Palmas, em junho deste ano de 2024, durante um cumprimento de mandado de prisão por crimes de tráfico, roubo, porte ilegal de armas e associação ao tráfico.
A PMTO colaborou com os trabalhos do cumprimento de mandados de buscas e apreensões, por meio da Corregedoria, e acompanhou o cumprimento da ordem judicial, com um oficial presente em todos os locais que foram alvos da operação.
A Polícia Militar lamenta o pedido do Delegado que preside o Inquérito da busca e apreensão nas dependências do Quartel, haja vista que as armas e os depoimentos dos policiais foram colhidos no ato da apresentação da ocorrência na Delegacia de Polícia (Depol).
Na oportunidade, a Polícia Militar do Tocantins ratifica seu compromisso com a legalidade e reforça o seu compromisso com a lei, a ordem e a ética, destacando ainda que repudia ilações ou suposições que envolvem o caso veiculadas sem a devida comprovação e que irá colaborar no que for necessário durante as investigações.
Nota da Prefeitura de Palmas
A Prefeitura de Palmas, por meio da Secretaria de Segurança e Mobilidade Urbana (SESMU), informa que desde que teve conhecimento da investigação está colaborando com a Polícia Civil no caso do suposto envolvimento de um agente da Guarda Metropolitana de Palmas que culminou na morte de uma pessoa no bairro Jardim Aureny III, em junho deste ano. Contudo, a SESMU não teve acesso à íntegra dos autos, mas, sendo confirmada a participação do agente, a pasta tomará todas as medidas cabíveis para apurar possíveis desvios de conduta e aplicar as sanções dentro do que determina a legislação. Cumpre ressaltar que a gestão permanece à inteira disposição das autoridades policiais para quaisquer esclarecimentos ou envio de informações.
*G1 Tocantins