Justiça condena TO pagar R$ 100 mil a filhos de idoso que morreu após ser intubado por falsa médica
15 JAN 2025 • POR • 10h17Os filhos de um idoso que morreu no Hospital Regional de Guaraí, na região centro-norte do estado, devem receber uma indenização de R$ 100 mil do Estado do Tocantins, conforme decisão judicial. Ele foi levado para a unidade com sintomas de Covid-19 e foi intubado por uma pessoa que trabalhava como médica, mas que não tinha diploma para atuar na profissão.
Participe do grupo do O Norte no WhatsApp e receba as notícias no celular.
A decisão, assinada pelo juiz Océlio Nobre da Silva, da 1ª Vara Cível de Palmas, saiu no fim da tarde de segunda-feira (13). No documento é relatado que Euzébio Correia da Silva, de 86 anos, foi levado para o hospital no dia 17 de maio de 2021 e acabou morrendo no dia 22 do mesmo mês, após passar pelo procedimento feito por Ludmylla Ferreira Alves, que não é ré neste processo.
Em 2021, ela foi descoberta pela direção do hospital e foi apurado que ela apresentou documento falso de que teria se formado em medicina no estado de Goiás.
A Secretaria de Estado da Saúde (SES) informou que não foi intimada oficialmente sobre a decisão até o momento, mas acompanha o caso e que, ainda em 2021, a pasta realizou Boletim de Ocorrência junto às autoridades policiais e encaminhou o caso à Corregedoria da Saúde (veja nota na íntegra no fim da reportagem).
Uma das filhas de Euzébio, Luzia Brito da Silva, contou ao g1 que acompanhou toda a internação do pai e que quando se confirmou o diagnóstico de Covid-19, não teve mais permissão para ser acompanhante no hospital por ainda estar em período de pandemia.
"Tive que sair da sala, também porque essa doutora nova ia cuidar dos idosos e das pessoas que estavam lá passando mal. Saí, vim para casa. Quando foi de noite, na sexta-feira eu liguei no hospital para saber notícia de como ele estava. Falaram que estava bem, que a doutora tinha medicado. No sábado pela manhã eu liguei e só mandaram esperar porque a doutora estava fazendo um procedimento", relembrou Luzia.
Sem ter mais notícias do pai, ela resolveu ir para o hospital no mesmo dia da última ligação para tentar informações. Mas logo em seguida uma assistente social da unidade entrou e contato e pediu para ela levar documento do pai e que a então médica Ludmylla queria falar com ela. Nesse momento Luzia já deduziu que o pai poderia ter morrido.
Quando chegou ao hospital, junto com uma irmã, a médica e outro profissional informaram que Euzébio havia morrido após problemas com o procedimento de intubação. Mas apesar da emoção do momento, ela percebeu que a falsa médica não queria assinar o documento atestando a causa da morte.
"Ela tremendo muito não conseguia preencher a certidão de óbito. Outro doutor disse que poderia preencher o papel e ela passou. Quando ele terminou de preencher ele falou 'a senhora vai assinar', e ela disse 'não, você pode assinar doutor'. E ele assinou", afirmou Luzia.
A filha da vítima desconfiou do fato de Ludmylla estar trêmula, mas a princípio não sabia que ela não era médica de fato. Isso só veio à tona quando Luzia viu uma reportagem que identificou a fraude.
Em julho de 2021, colegas teriam desconfiado da falta de conhecimento da suposta médica sobre procedimentos da área e avisado aos supervisores. A farsa foi descoberta após a conferência de documentação e dos registros profissionais apresentados por ela. Na época, a Secretaria de Estado da Saúde disse que mulher chegou a atender alguns pacientes na unidade e que haveria uma verificação nos prontuários.
Pela situação de risco que o pai foi submetido e após ver que era a mesma pessoa, Luzia e os cinco irmãos resolveram entrar na Justiça contra o Estado.
"Sei que não vai trazer meu pai de volta. Sei também que dinheiro nenhum pode reparar a dor de uma perda. Porém, o Estado está sendo penalizado por um ato que eles cometeram, de contratar uma pessoa sem averiguar direito quem aquela pessoa era. Talvez se meu pai tivesse passado por um médico que fosse especialista que soubesse cuidar do caso, ele teria sobrevivido. Ele já estava doente e passar por uma pessoa que não sabe nada, então isso ocasionou e apressou a morte do meu pai", lamentou Luzia, ressaltando que Euzébio não foi o único que passou por atendimento com a falsa médica.
Pela morte prematura do pai e o 'sofrimento intenso' dos filhos, o juiz condenou o Estado a pagar o valor de R$ 100 mil por danos morais, valor que poderá ser dividido entre os filhos.
Íntegra da nota da SES:
A Secretaria de Estado da Saúde (SES-TO) não foi intimada oficialmente sobre a decisão até o momento, mas acompanha o caso e ainda em 2021, a Pasta realizou Boletim de Ocorrência junto às autoridades policiais e encaminhou o caso à Corregedoria da Saúde, que trabalha nas respectivas investigações para as medidas cabíveis.
Por fim, a SES-TO destaca que está à disposição do judiciário e órgãos de controle, para as diligências que coadunam com um Sistema Único de Saúde (SUS) digno à população tocantinense.
*G1 Tocantins