Por: Daniel Lélis

As baforadas do cinismo. Ou os três tipos de homofóbicos mais famosos do país

6 ABR 2011 • POR • 21h34
Divulgação

Homofóbico, eu? Não, claro que não. Eu só acho que o homossexualismo é um pecado abominável, mas fique tranquilo. Se você se entregar a sua vida ao SENHOR JESUS TODO PODEROSO, logo ele a edificará e você se verá livrar dessa doença promíscua. Eu amo você, pecador! Vou orar por ti.
 

Identificam-se três principais tipos de homofóbicos no Brasil. O primeiro deles é o “homofóbico esperto”, que também pode ser chamado de “homofóbico canalha”. É o grupo mais perigoso para a o bem estar social, dada a sua tendência criminosa de querer dividir as pessoas. Seus argumentos são mais rebuscados. Sua retórica é quase sempre recheada de sutileza. Seus apelos são sempre mais emocionais. Sabem de cor e salteado todos os versículos da Bíblia que condenam o “homossexualismo” (insistem com o sufixo “ismo”, mesmo sabendo que este é tão ultrapassado quanto eles). Acusam, mas sabem se defender. O terrorismo psicológico é a sua principal arma.

Não perdem a oportunidade de, sob o pretexto de defender as suas convicções, incitar o ódio aos homossexuais. São de uma cretinice absurda. De um cinismo absolutamente grotesco. Defendem com unhas e dentes o suposto direito que tem de ofender, discriminar e oprimir, mesmo que “sutilmente” o homossexual. Falam em nome da liberdade de expressão, mas querem mesmo é ter liberdade para pregar o preconceito em seus ninchos. Afirmam despudoradamente que os militantes homossexuais querem implantar uma “ditadura gay” no Brasil. A “ditadura da ignorância”, pelo visto, eles próprios já cuidaram de criar. O “gayzismo” (palavra caprichosamente criada pelos homofóbicos espertos), segundo eles, quer destruir a família brasileira. Parecem desconhecer o fato de que é a homofobia, essa patologia que pregam desavergonhadamente, que destrói milhares de famílias no país inteiro. Ou será que os “defensores da família” não sabem que milhares de homossexuais são expulsos todos os anos do seio de suas famílias, sendo privados de ter um mínimo de dignidade? Pertencem ao grupo dos “homofóbicos espertos” a maioria dos líderes religiosos, como Bento XVI, Cláudio Hummes, Eugenio Sales, Silas Malafaia, R.R. Soares; alguns pseudo-intelectuais, como Julio Severo e Ziraldo, e, é claro, muitos políticos, como Magno Malta, Garotinho, Marcelo Crivella, Carlos Apolinário, Eduardo Cunha, Edino Fonseca e, claro, Jair Bolsonaro. O discurso que inaugura o texto, sutil, mas depravado, como se percebe, pertence a essa curiosa espécie homofóbica.

O segundo tipo de homofóbico, o mais comum, é o que chamo de “homofóbico replay”. É o partidário dos espertos. Embora o grau de periculosidade deste grupo seja menor que o daqueles que seguem, todo cuidado é pouco. Dar-lhes atenção pode lhe custar uma infortuna dor de cabeça por alguns dias. São os responsáveis por expandir a idiotia pregada pelos seus líderes. Não são de inventar novos argumentos, apenas tratam de espalhar aqueles que já foram plantados na sua cabecinha de miolo mole. Quase sempre decoram as babaquices dos seus guias e na oportunidade certa vomitam tudo... O “homofóbico replay” é antes de tudo um alienado, um completo papagaio bufão que não se incomoda de ter que repetir mil vezes que seja a perversa ladainha dos seus chefes espirituais.

Por fim, tem-se a figura do “homofóbico piadista”. Este jura de pés juntos que não é homofóbico. É aquele que gosta de dizer: ah, eu tenho até amigos... O “piadista” geralmente não é religioso. Também não faz questão de pregar valores morais a ninguém. Contudo (e tinha que ter um “contudo”), é aquele que não perde a oportunidade de fazer uma gracinha com a sexualidade alheia. Debocha e fere, mesmo que não seja intencionalmente. Para ele, é prazeroso zombar do gay, da lésbica, da travesti... e ele o faz sempre que pode. Trata-se de uma espécie preconceituosa tão presente no cotidiano das pessoas que rivaliza com o “homofóbico replay” em número de adeptos. Dono de uma insegurança amazônica, este tipo adora (A-DO-RA) jactar de sua heterossexualidade. Faz questão de propagandeá-la aos quatro cantos. Embora possa parecer inofensivo, o “homofóbico piadista”, ao reforçar estereótipos e negativar (mesmo que as vezes sem perceber) o comportamento homossexual, pode ser tão perturbador quanto o “homofóbico canalha”. Lembram do “Dourado”do BBB 10?! Pois é...

Vale dizer que os três grupos aqui descritos, cujas variações podem ser as mais infinitas possíveis, são apenas a ponta do iceberg. Ou seja, são aqueles que encarnam com mais fervor o sentimento infeliz a qual se prestam disseminar, sendo por isso mais fáceis de serem identificados. Entretanto, há centenas de outras espécies preconceituosas rondando por aí. Inclusive, é importante destacar que um homofóbico de uma classe pode pertencer a outra (s) perfeitamente. Isto é, nesse zoológico as feras podem amontoar-se em uma ou mais jaulas sem problemas. Problema mesmo tem os homossexuais vítimas do preconceito homicida. Segundo o GGB (Grupo Gay da Bahia), desde 1980, o Brasil já teve mais de 3000 assassinatos homofóbicos. A maioria deles com requintes de crueldade.
 

Algo me diz que no lugar de jaulas, celas seriam mais apropriadas para as espécies aqui catalogadas.


P.S.: a imagem que ilustra este artigo é do menino Alexandre Ivo, de 14 anos, que foi sequestrado, espancado, torturado e asfixiado até a morte por um grupo de jovens no dia 21 de junho de 2010 em São Gonçalo-RJ. O motivo da barbaridade: Ivo era homossexual. A homofobia o matou.


 

Daniel Lélis