Jogador hoje é grande promessa no Vasco
13 ABR 2011 • POR • 10h35
Quando o Vasco chegava ao fundo do poço, um garoto chorava debaixo das arquibancadas de São Januário. Era dezembro de 2008, e Marlone também tinha passado o pior ano da sua vida. Filho adotivo — a mãe de sangue deu à luz o jogador e um gêmeo quando tinha menos de 14 anos — de um casal que já tinha quatro crianças, o garoto foi vítima de um erro no seu registro de nascimento. O clube descobriu falsificação de outro atleta da equipe e chegou a dispensar o jovem louro que começou a jogar bola com 5 anos driblando cachorros na roça e hoje se transformou na maior esperança das divisões de base vascaínas.
“Costumo dizer que sou um escravo. Pode parecer uma palavra forte, mas é que sempre trabalhei muito, abri mão de muitas coisas. Enquanto os outros dormiam, eu estava sempre trabalhando”, diz ele, que completou 19 anos no último dia 2.
Poucas semanas depois de renovar com o clube por cinco anos, Marlone, camisa 10 e destaque dos juniores, lembra da humilhação que passou no pior ano da história do Vasco. “Em todo clube tem humilhação, um rebaixamento porque alguém está melhor do que você. Não foi um, dois meses, foi o ano todo. Eu fui mandado embora do Vasco”, conta o garoto, que nasceu em 1992 e foi registrado um ano depois. “Não foi falsificação, falei a verdade. Aí o Vasco pediu para eu ir em casa buscar os documentos. Fui, arrumei tudo e, quando liguei, disseram que não me queriam. Já tinha arrumado tudo e voltei mesmo assim”, diz o jovem, que nem treinava.
“Às vezes pegava minha roupa e fedia a ‘chulé’. Os garotos diziam: ‘Só treino com você quando estou suspenso, você é baba da baba’, contavam dinheiro na minha cara. Ficava adoecido, queria minha mãe. Eu chorava muito”, diz Marlone, que poucas vezes viu a mãe de sangue e só aos 11 anos conheceu o irmão gêmeo Marlon, que joga no Olaria.
Enquanto o Vasco passava por anos difíceis, ele se virava como podia para comer. Recebia apenas R$ 50 mensais do pai e corria as arquibancadas atrás de restos de comida nos intervalos entre as refeições. “Os meninos soltavam pipa e eu ficava olhando para o chão. Quando via alimento, saía correndo e eles vinham também, achando que era pipa. Mas era um biscoito estragado”, lembra ele, que chegou ao Vasco em 2006 depois de tentativas frustradas no Cruzeiro.
Quando o pai já desistia de bancar o sonho do filho, apareceu um carro de som que anunciava a peneira do Vasco, em Imperatriz (MA), próximo de Augustinópolis (TO), onde nasceu. Entre mais de 600 garotos, ele foi aprovado. “Sempre tive o Vasco como um pai para mim. Ganhei carinho, o clube apostou em mim, me ensinou a ser atleta, a ser homem”, disse o garoto, que torcia para o Corinthians na infância. (O Dia)