A venda milionária do terreno do antigo Parque de Exposições em Araguaína está no centro de uma polêmica que foi parar na justiça, onde de um lado da corda está o Sindicato Rural de Araguaína (SRA) e na outra ponta, a empresária Flávia Neiva, que atua há 22 anos no ramo de gastronomia e investiu mais de meio milhão de reais, na construção de um restaurante no terreno, mas que agora está sob ameaça de ser despejada por uma liminar judicial.
VENDA MILIONÁRIA E IMPASSE
Flávia procurou nossa reportagem para denunciar o que classificou como descaso e desrespeito que tem enfrentando por parte da diretoria do sindicato para tentar resolver o impasse.
Para entender o caso, vale lembrar que o terreno do parque de exposições foi vendido por um valor na casa dos R$ 30 milhões para um grupo atacadista, que já deu início à demolições para a construção do novo empreendimento.
"PEGA DE SURPRESA"
A venda foi comemorada pela diretoria do SRA e o assunto repercutiu no Portal O Norte e em outros veículos de comunicação do Estado: "Como a maioria dos araguainenses, foi assim que eu fiquei sabendo o que estava acontecendo. Não me comunicaram nada, meu contrato foi renovado por força de cláusula e mesmo assim não querem cumprir por conveniência deles, querem me despejar sem nenhum reparo ao meu prejuízo e fui notificada em 04 de julho deste ano, de que eu me retirasse pois o imóvel foi vendido e seria demolido".
Desde então, a empresária Flávia Neiva vive um pesadelo tentando negociar com o Sindicato Rural para permanecer no local ou uma indenização que visa cobrir os danos financeiros causados pela desocupação da construção feita por ela. "Mesmo com uma negociação milionária como essa, eles querem me despejar com uma mão na frente e outra traz. É a situação mais humilhante que já passei na minha vida", lamenta Flávia afirmando que a última conversa que teve com o atual presidente, Wagner Borges, ele ofereceu R$ 100 mil para "encerrar o assunto".
"Um valor insignificante diante de todo o investimento que tive que fazer, sem falar no lucro cessante. Uma proposta indecente que ele teve a coragem de dizer apenas que era só o que eles podiam oferecer para mim e nada mais...e ainda disseram que eu poderia tirar as minhas "coisinhas" que desse pra retirar daqui".
CONVENCIDA POR UMA PROMESSA
Flávia contou à nossa reportagem, que em 2019, assinou o contrato com o então presidente do SRA, Roberto Paulino, para a locação de uma parte do terreno onde ela construiu o restaurante Dona Flor: "Fui convidada e convencida pelo presidente em construir meu restaurante nessa parte do terreno, com a promessa de que ficaria por anos aqui em uma área valorizada e bem localizada da cidade. Jamais faria um alto investimento como esse sabendo que poderia chegar na situação em que estou agora, vendo meu sonho, meu trabalho árduo e tudo o que eu investi até aqui ir por terra abaixo", lamentou.
CONSTRUÇÃO E PANDEMIA
Depois de ter o contrato fechado com a garantia de que seria sempre renovado, Flávia deu início ao processo de construção. "Transformei um curral em um restaurante. Levantei tudo do zero, cada porcelanato, tijolo na parede, as caríssimas instalações da nossa cozinha... tudo custou o suor de um trabalho duro".
A empresária explica que depois de tudo pronto para inaugurar, a pandemia chegou como um balde de água fria nas suas expectativas. "Continuei pagando aluguel, mesmo sem arrecadação e ficamos fechados até 2021", disse acrescentando: "Quem atua no ramo sabe que um investimento comercial, além de investimento pesado em marketing para consolidar a marca, demora anos para ter o retorno financeiro, e quando finalmente começamos a colher os frutos de nosso trabalho, conquistar uma clientela... vem esse segundo baque para nos derrubar".
"SÓ QUERO O QUE É JUSTO!"
Flávia agora luta na justiça para conseguir derrubar a liminar de despejo. O advogado Maurício Araújo afirma que Flávia está totalmente aberta a uma negociação justa: "Minha cliente só pede para ficar no imóvel conforme o tempo restante no contrato, construir um imóvel igual para comportar as mobílias ou que seja somado tudo o que ela investiu que ultrapassa a cifra de R$ 500 mil reais para que assim, ela seja devidamente indenizada pelo Sindicato", explica.
Finalizando a entrevista, a empresária faz um apelo à diretoria do sindicato: "Sou filha dessa terra, ajudo a fomentar a economia da nossa cidade, é um negócio da minha família mas que sustenta mais de 10 famílias aqui. Não estou pedindo nada que eu não tenha direito, só espero o que o Sindicato seja justo. Como vou arcar com todo esse prejuízo presidente?", questionou.
O SINDICATO RURAL
O Portal O Norte procurou o SRA para se manifestar sobre o caso. Em nota, o sindicato disse que o contrato que segundo eles teve início em 01 de janeiro de 2020 terminou em janeiro de 2023 e que notificou a locatária de que não tinha interesse na renovação.
Ainda na nota, o SRA afirma que teria sido previsto no contrato que em hipótese alguma a locatária teria direito a indenização de benfeitorias edificadas no local, pelo contrário, essas realizações seriam incorporadas ao patrimônio do locador e que tais questões era de conhecimento da locatária.
Confira abaixo a nota na íntegra: