Uma mulher de apenas 32 anos que tinha como maior sonho de sua vida ser mãe, teve o seu desejo tragicamente interrompido após uma série de complicações durante e após o parto no Hospital e Maternidade Dom Orione (HDMO), em Araguaína, no Norte do Tocantins. O marido de Vanúbia Alves da Silva procurou nossa reportagem para denunciar o caso, que coloca mais uma vez a maternidade no centro de uma grave denúncia.
Jefferson Silva (28 anos) perdeu a esposa hoje (15), e apesar do luto, juntou forças para denunciar o caso e contar sua história à nossa reportagem, revelando o peso de uma dor que ele nunca imaginou sentir. "Minha esposa, estava grávida de nove meses, ela tava esperando ansiosa o nascimento da Ágatha, a nossa primeira filha. Mas os últimos dias foi de muito sofrimento pra nós, um verdadeiro pesadelo", lamentou.
DO NORMAL À CESÁREA
O técnico em segurança eletrônica conta que Vanúbia deu entrada na maternidade no dia 27 de setembro, sentindo as dores do parto e foi logo internada. "Ela queria ter normal. Eles começaram a induzir comprimidos para acelerar o processo", relatou Jefferson, destacando que com o aumento da pressão do bebê, os médicos decidiram realizar uma cesárea em Vanúbia.
SINAIS IGNORADOS
Após a cirurgia, a vendedora que trabalhava em uma ótica em Araguaína, ficou ainda cinco dias internada, mas o quadro começou a mudar drasticamente.
Nos dois primeiros dias após a cirurgia, Vanúbia relatou desconforto na barriga, comuns após a cesariana. Mas, a partir do 3º dia, as dores se intensificaram. "Ela começou a reclamar de dores nas costelas, nas costas, teve febre, tontura e chegou a desmaiar", disse o marido. Apesar dos sinais de alerta, os médicos deram alta à paciente no 5º dia, diagnosticando as queixas apenas como "gases".
No entanto, ao chegar em casa, Vanúbia piorou. "Ela continuava sentindo muita dor. Como eles disseram que era apenas um mal-estar temporário e recomendaram compressas de água quente, foi isso que a gente fez em casa. Mas no dia seguinte, o quadro só piorou. O corpo dela começou a expelir secreção. Ligamos para o SAMU, que levou ela de volta à maternidade”, relembrou Jefferson.
NÃO RESISTIU
De volta ao hospital, Vanúbia foi diagnosticada com infecção generalizada e encaminhada imediatamente para a UTI. "Eles identificaram algo errado e abriram ela de novo. Desde o dia que ela voltou para a maternidade até hoje, ela foi submetida a quatro cirurgias", afirmou o marido. Vanúbia foi internada novamente no dia 2 de outubro e, após lutar bravamente por sua vida, não resistiu e faleceu na madrugada desta terça-feira às 4 horas.
DENÚNCIA E INDIGNAÇÃO
Jefferson não esconde sua indignação. Durante o período em que Vanúbia esteve internada, ele afirma ter presenciado pelo menos três casos de óbito de mulheres no puerpério. "Eu não entendo como algo assim pode acontecer em uma maternidade. Minha esposa não era para ter morrido. Ela estava saudável, e eu vi de perto o descaso", lamentou.
Ele também questiona a qualidade do atendimento na unidade. Imagens registradas no momento do parto de Vanúbia mostraram membros da equipe médica utilizando adornos, como brincos e colares no centro cirúrgico. "Isso é um absurdo. Como podem ignorar medidas tão básicas de segurança?", questionou Jefferson.
Na declaração de óbito, a causa da morte foi apontada como septicemia, uma infecção puerperal.
OUTRO CASO
Esta é a segunda vez este ano ano que o hospital é alvo de uma grave denúncia na ala da maternidade. No mês de março, o Portal O Norte trouxe à tona a denúncia de uma mãe grávida de 8 meses que acabou perdendo seu bebê depois de procurar diversas vezes atendimento na unidade em menos de uma semana.
Lays Martins (25 anos), procurou nossa reportagem para denunciar o caso e também usou seu perfil no Instagram para contar sua história em uma live, onde ela acusa médicos de negligência e violência obstétrica.
Após repercussão, a Maternidade se manifestou lamentando o caso e garantindo uma "investigação minuciosa".
EM BUSCA DE RESPOSTAS
O Portal O Norte procurou mais uma vez o Hospital e Maternidade Dom Orione para se pronunciar oficialmente sobre as denúncias e a família de Vanúbia agora busca por justiça e esclarecimentos.
“Minha esposa queria ser mãe, e esse sonho foi arrancado dela e da nossa filha. Eu só quero entender por que isso aconteceu e que os responsáveis sejam punidos. Ela não merecia esse fim”, concluiu Jefferson, ainda abalado com a morte da esposa.
Vanúbia está sendo velada a residência do casal no setor Universitário e o corpo deve ser sepultado na manhã desta quarta-feira (16), em Babaçulândia, sua terra natal.