O período de estiagem está fazendo com que lagos na Ilha do Bananal sequem, causando a morte de espécies de peixes. Diante do problema, brigadistas e indígenas se juntaram em uma força-tarefa para resgatar os que ainda estão resistindo. A maioria é pirarucu, os peixes agonizavam em poças de água tentando sobreviver à seca.
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O resgate começou na terça-feira (3) e continuou nesta quarta-feira (4). Em imagens feitas por indígenas da região, é possível muita lama e algumas poças de água onde antes viviam os peixes. Alguns pirarucus aparecem mortos em meio ao lamaçal. A espécie serve de base para o sustento das comunidades na maior ilha de água doce do mundo.
Um grupo de brigadistas do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) tenta salvar um a um durante ação no lago Bananal, interior da terra indígena em Formoso do Araguaia.
"Aqui nesse lago, a água nunca tinha secado, né? É a primeira vez que ela seca e puderam ver que o prejuízo ambiental é enorme. Então a gente está aqui empenhada, a Brigada Javaé, para tentar minimizar essa perda ambiental imensa", explicou Cleber Javaé, chefe da brigada.
Já são seis meses sem chuva, com a vegetação sendo castigada pela seca e pelo fogo. Até um veado foi flagrado com dificuldade ao caminhar pela lama enquanto procurado água e comida. A região que é considerada uma das áreas úmidas mais importantes do planeta, e agora está com carcaças de animais por todos os lados.
Lamaçal abrigava peixes que resistiam ao calor — Foto: Ana Paula Rehbein/TV Anhanguera
Transporte
Um tanque foi improvisado na carroceria de uma caminhonete para transportar os animais até o rio mais próximo que são secou. Cada pirarucu pesa até 15 quilos. Depois de resgatados, eles são soltos para se adaptar ao novo espaço.
O brigadista Donizeth Javaé ajudou a fazer o resgate dos peixes. Natural da região, cresceu à beira do lago e contou que não se conforma com a situação que o meio ambiente enfrenta.
Carroceria de caminhonete serviu como tanque improvisado para o transporte dos peixes — Foto: Ana Paula Rehbein/TV Anhanguera
"É uma catástrofe muito grande, né, porque é um lago de suma importância, tem um histórico grande, onde surgiu a história do povo Javaé nesse local. Aqui temos aldeias velhas ao redor. Então, é uma tristeza grande, enorme, tá morrendo toneladas de peixes, milhares de várias espécies", lamentou.
Uma análise feira pelo Centro Nacional de Monitoramento de Desastres Naturais (Cemaden), órgão ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, mostrou que o Brasil enfrenta a maior seca já vista na história recente. Conforme dados, pela primeira vez, a estiagem afeta o país de forma generalizada.
Os dados sobre a seca cobrem o período desde 1950 e na série histórica, a estiagem se agravou a partir de 1988. De lá para cá, a seca mais severa havia sido registrada em 2015. Neste ano, a falta de chuva e os severos impactos na vegetação atingem uma área muito maior que a de 2015.
Problema se repete
Todos os anos a Ilha do Bananal sofre com os impactos do tempo quente. Em novembro de 2023, uma força tarefa foi montada para resgatar pirarucus que ainda sobreviviam em lagos da região. Mas muitos não aguentaram as mudanças climáticas e acabaram morrendo.
Na época, foi constatado que as mortes aconteceram por falta de oxigênio na água, já que alguns lagos se transformaram em lamaçais. Pelo menos 100 animais foram colocados em tanques e levados para um rio, distante 10 km de onde estavam.
O chefe de esquadrão PrevFogo/Ibama Sidiney de Oliveira Silva, assassinado no dia 15 de junho deste ano na porta de casa, em Formoso, foi quem conduziu as equipes no resgate dos pirarucus na época.
*G1 Tocantins